quarta-feira, 14 de agosto de 2013

nenhum pesadelo me assalta, estes pesadelos são fabricados, não sofro de nenhum defeito no meu relógio biológico, não tenho qualquer velha inimizade contra o sol, não sofro do feitio que herdei... cada um destes rótulos é fabricado.

eu sou fabricado. não porque sou eu - é que todos os pronomes são fabricados.

Najwân Darwîsh

لا كَوابيس تطاردني، هذه كوابيس مُفَبْرَكة، لا أُعاني مِن خلل في ساعتي البيولوجية، ليس لي خصومة قديمة مع الشمس، لا أُعاني مِن  طِباعي الموروثة.. كل هذه مسمّيات مُفَبْرَكة.

أنا مُفَبْرَك. ليس لأني أنا - لأن جميع الضمائر مُفَبْرَكة

quarta-feira, 31 de julho de 2013

os colaboracionistas


أنا لا أَكْرَهُ الجَواسيسَ. اُنْظُروا كَيفَ أَسْمَع
سَماجات مُذيعيهم دون أَن أَتقيأ

eu não odeio os colaboracionistas. vede como ouço
as atrocidades dos seus porta-vozes sem vomitar.
(Najwân Darwîsh)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Tantura


Tantûra

é mais pequeno o mar do que a banheira de um menino de dois anos
que ainda há um bocadinho patinhava na sua banheira azul
- imagem fotográfica da felicidade plena -
e barcaças vermelhas num crepúsculo cortado pela luz da Noite do Destino

é Tantûra na manhã do dia do Juízo
nas suas praias bamboleiam-se barcas de sangue.

Najwân Darwîsh
(Tradução do árabe: André Simões)

NOTAS
Tantura: povoação perto de Haifa onde em 1948 terá ocorrido um massacre perpetrado pelas tropas israelitas.
Noite do Destino: a noite na qual se acredita ter começado a Revelação do Alcorão.


الطَنْطورة

البَحْرُ أَصْغَرُ مِنْ مُسْتَحَمِّ طِفْلٍ في الثانيةِ
كانَ يُبَطْـبِطُ مُنْذُ قَليلٍ في مُسْتَحَمِّهِ الأزرقِ
- صورة فُتُغرافية لِلْسَعادةِ الكامَلةِ -
وشَخاتيرُ حَمْراءُ في غَسَقِ يشقه نورُ ليلةِ القَدْرِ

إنّها الطَنْطورةُ صباحَ يَومِ القيامةِ
تَلْعِبُ عِندَ شواطئها شخاتيرُ الدم.

sábado, 12 de janeiro de 2013

O autocarro dos pesadelos


O autocarro dos pesadelos

vi-os deitar as minhas tias em sacos de plástico negro
e nos cantos dos sacos acumulava-se o sangue morno delas
(mas eu não tenho tias)
soube que tinham matado Natacha – a minha filha de três anos
(mas eu não tenho filha)
disseram-me que eles tinham violado a minha mulher antes de lhe arrojarem o corpo
pelas escadas e de o deixarem na rua
(mas eu não sou casado)
foram de certeza os meus óculos que foram esmagados debaixo das botas deles
(mas eu não uso óculos!)
...

dormia eu em casa dos meus pais e sonhava em viajar até à casa dela, e quando
acordei:
vi os meus irmãos
pendurados no telhado da igreja da Ressurreição.
dizia o Senhor por piedade: esta é a minha dor.
e eu recolhia o orgulho dos enforcados e dizia: não, esta é a nossa dor!
...

a dor ilumina e torna-se-me mais querida que os meus pesadelos
...

não fugirei para norte
Senhor
não me contes entre os que procuram refúgio

– fecharemos estas contas mais tarde –

agora tenho de ir dormir:
não quero chegar atrasado ao autocarro dos pesadelos
o que vai para Sabra e Chatila...

Najwân Darwîsh
Tradução do árabe: André Simões

باص الكوابيس


رأيتهم يضعون خالاتي في أكياس بلاستيك سوداء
وفي زوايا الأكياس تتجمع دماؤهن الحارة
(لكن أنا ليس لي خالات)
عرفت أنهم قد قتلوا نتاشا -ابنتي التي في الثالثة
(لكن أنا ليس لي ابنة)
قيل لي أنهم اغتصبوا زوجتي قبل أن يجرّوا جسمها على الدرج ويتركوه في الشارع (لكن أنا لم أتزوج)
لا شك هذه نظارتي التي تحطمت تحت البسطار
(لكن أنا لا ألبس نظارة!)
. . .
كنتُ نائماً في بيتنا أَحلم بالسفر إلى بيتها، وحين استيقظت:
رأيت إخوتي
يتدلّون
من سقف كنيسة القيامة.
كان الرب يقول من الشفقة: هذا ألمي أنا.
وكنت أَستجمع كبرياء المُعلّقين وأقول: لا بل هذا ألمنا!
... الألم يضيء ويصير أحبّ إليّ من كوابيسي. ...
لن أهرب للشمال
أيها الرب
لا تحسبني من الذين يبحثون عن ملاذ.
- سنكمل لاحقاً هذا الحساب -
عليّ أن أمضي الآن إلى النوم:
لا أريد أن أتأخر عن باص الكوابيس، الذاهب إلى صبرا وشاتيلا
...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O arauto


وأبْـخَـرَ قَصَّ حَديثاً له     فَقالَ الحضورُ:  فَسا ذا الحَدَث
فَقُلْتُ لَهُم: بادِروا بِالقيامِ     فَإنَّ الفُساءَ نَذيرُ الحَدَث

Um tipo com mau hálito falou,     e disseram os presentes: – E não é que ele bufou!
E disse-lhes eu: –  Depressa, fugi!     É que bufa é o arauto da merda!


Ibn Ṣâra de Santarém (1043-1123)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

um pouco de jazz

um pouco de jazz
Najwan Darwish



ó tu, cônsul negro de uma civilização branca como uma mortalha
ó tu, cônsul branco de uma civilização de carvão
haverá uma cor terceira com quem eu possa falar?
ou devemos implorar-te, como criadas bem educadas, para nos permitires viajarmos,
o que fazer para que te agradem estas caras que o Senhor traçou?
ou dançaremos nós diante das embaixadas a noite toda, acenderemos nós um fogo à maneira das tribus zulu?
ou quereis que nos deitemos com as vossas velhas para provarmos as nossas boas intenções?
ou assinamos os contratos de inocência da História
ou desinfectamos a memória com Dettol
ou queimamos o livro “Orientalismo” e as nossas mães “atrasadas” – com gasolina – e rimos.
ou tocamos um pouco de jazz para a tua mulher?

ó tu, cônsul
as nossas caras derreteram e nós para cá e para lá e estamos perante os teus olhos perscrutadores e as tuas experientes secretárias, mais excelentes que cães-polícia...
estas caras cujos traços apagastes com as vossas tendências experimentais perseguir-vos-ão em pesadelos durante sete gerações pelo menos

ó tu, cônsul
este poema perseguir-te-á a ti em particular.


Najwân Darwîsh
Tradução do árabe: André Simões


قليل من الجاز


نجوان درويش


أَيها القُنْصل الأَسود لِحَضارةٍ بيضاءَ كالكَفَن
أَيها القنصل الأبيض لحضارة مِن الفَحْم
أَما مِنْ لونٍ ثالثٍ أَتحدّث إليه؟
أَينبغي أَن نَضْرَع مثل خادمات مؤدّبات لتسمحوا لنا بالسَّفر
ماذا نصنع لكي تعجبكم وجوهنا التي رسمها الربّ؟
أَنرقص أَمام السفارات طوال الليل ونُشْعل ناراً مثل قبائل الزولو
أَتريدون أَن نضاجع عجائزكم لِـــنُـــــــثْبِتَ حُسْنَ نوايانا؟
أَنوقِّع صكوك براءةٍ من التاريخ
أَنعقِّم الذاكرة بالديتول
أَنحرق كتاب "الاستشراق" وأُمهاتنا "المتخلِّفات" ـــــ بالكازـــــ ونحن نضحك.
أَنعزف لزوجك قليلاً من الجاز؟
أَيها القنصل
وجوهنا ذابت ونحن نروح ونجئ أَمام عيونك الفاحصة وسكرتيراتك المدرَّبات أَفضل من كلاب الشرطة...

هذه الوجوه التي طمستم ملامحها بِنزعتكم التجريـبـية ستطاردكم في الكوابيس لسبعة أَجيال على الأقل.

أَيها القنصل
هذه القصيدة ستطاردك أَنت بالذات.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

alvorada

وَبَشَّرَ بِالصُّبْحِ بَرْدُ النَّسيمِ     وسُكْرُ النَديمِ وضُعْفُ السِّراجِ

anunciam a alvorada o fresco da brisa
e a bebedeira de um amigo e o morrer da lâmpada

Ibn âra de Santarém (1043-1123)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Nem menos, nem mais


Sou uma mulher. Nem mais, nem menos.
Vivo a minha vida como ela é
fio a fio
e fio a minha lã para vesti-la, não
para acabar a história de Homero ou o seu Sol
e vejo o que vejo
tal como é, na sua aparência.
e no entanto fixo o olhar uma
e outra vez na sua sombra
para sentir o pulso da perda,
e escrevo um amanhã
sobre as folhas de um ontem: não há voz
apenas o eco.
Gosto da ambiguidade necessária nas
palavras daquele que viaja de noite em direcção ao que já se foi
da ave sobre as colinas das palavras
sobre as açoteias das aldeias.
Sou uma mulher, nem menos, nem mais.

Faz-me voar a flor de amendoeira,
no mês de Março, da minha varanda,
saudosa de um dizer distante:
Toca-me, para que eu leve os meus cavalos à água das nascentes.
Choro sem razão aparente, e amo-te
a ti como és, sem obrigação
sem ser em vão.
e dos meus ombros levanta-se o dia sobre ti
e quando te abraça desce uma noite sobre ti
e eu não sou isto nem aquilo
não, não sou Sol nem Lua
sou uma mulher, nem mais, nem menos.

Sê tu o Qays da nostalgia
se assim queres. É que eu
eu gosto de ser amada como sou
não uma imagem
colorida no jornal, ou uma ideia
entoada no poema entre os cervos...
ouço o grito de Laila longínquo
a partir do quarto de dormir: – Não me deixes
prisioneira de uma rima nas minhas noites das tribus
não me deixes com eles como uma história...
sou uma mulher, nem mais, nem menos.

Eu sou quem sou, como
tu és quem és: moras em mim
e eu moro em ti sobre ti para ti
amo a claridade necessária no nosso mistério partilhado
sou tua quando transbordo da noite
mas não sou uma terra
não sou uma viagem
sou uma mulher, nem mais, nem menos.

Cansa-me
o ciclo da Lua mulher
adoece a minha guitarra
corda
a corda
sou uma mulher,
nada menos
nada mais!

Mahmûd Darwîsh, O leito de uma estranha (1999)
Tradução: André Simões

لا أَقَلَّ، ولا أَكْثَرَ

أَنا اُمرأةٌ. لا أَقلَّ ولا أَكثرَ
أَعيشُ حَياتي كَما هِيَ
خَيْطاً فَخَيْطاً
وأَغْزِلُ صُوفي لِألبَسَهُ , لا
لِأُكْمِلَ قَصَّةَ ((هُوميرَ)) أَو شَمْسَهُ
وأَرى ما أَرى
كما هُوَ , في شَكْلِهِ
بَيْدَ أَنِّي أُحدِّقُ ما بِينِ حِينٍ
وآخَرَ في ظِلِّهِ
لِأحِسَّ بِنَبْضِ الخَسارةِ،
فاكتُبْ غداً
على وَرَقِ الأمْسِ: لا صَوْتَ
إلاّ الصَدىً.
أُحبُّ الغُموضَ الضَروريَّ في
كَلِمات الـمُسافِر لَيلاً إلى ما آختفى
مِنَ الطَير فَوقَ سُفُوحِ الكلام
وفَوقَ سُطُوحِ القُرى
أَنا امرأة ، لا أَقلَّ ولا أكثرَ

تُطَيِّرُني زَهْرَةُ اللوز،
في شهر آذار ، مِن شُرْفتي
حَنِيناً إلى ما يقول البعيدُ :
((اُلْمِسيني لِأُوردَ خيليَ ماء اليَنابيعِ))
أَبكي بلا سَبَبٍ واضِحٍ , وأُحبُّكَ
أَنت كما أَنت , لا سَنَداً
أَو سُدَى
ويَطَلْعُ من كَتْفيَّ نَهارٌ عَليكَ
ويَهْبُطُ، حِين أَضْمُّكَ، ليلٌ إليك
ولستُ بهذا ولا ذاك
لا لستُ شمساً و لا قمراً
أَنا امرأةٌ، لا أَقلَّ ولا أكثرَ

فكُنْ أَنتَ قَيْس الحَنِين،
إذا شئتَ . أَمَّا أَنا
فيُعجِبُني أَن أُحَبَّ كما أَنا
لا صُورَةً
مُلَوَّنَةً في الجَريدة , أو فِكْرةً
مُلَحّنةً في القصيدة بين الأَيائلِ...
أَسْمَعُ صَرْخةَ ليلى البعيدة
من غرفة النوم: لا تتركني
سَجِينةَ قافيةٍ في ليالي القبائلِ
لا تتركيني لهم خبراً...
أَنا اُمرأةٌ , لا أَقلَّ ولا أكثرَ

أَنا مَن أَنا , مثلما
أَنت مَنْ أَنت : تَسْكُنُ فيَّ
وأَسكُنُ فيك إليك ولَكْ
أُحبّ الوضوح الضُروريَّ في لُغْزِنا المشترك
أَنا لَكَ حين أَفيضُ عن الليل
لكنني لَسْتُ أَرضاً
ولا سَفَراً
أَنا اُمرأةٌ , لا أَقَلَّ ولا أكثرَ

وتُتعبُني
دَوْرَةُ القَمَر الأنْثَويّ
فتمرضُ جيتارتي
وَتَراً
وَتَراً
أنا اُمرأةٌ،
لا أَقلَّ
ولا أكثرَ!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Falta-nos um presente


Falta-nos um presente
...
não nos chegam os nossos anos para envelhecermos juntos
e irmos cansados ao cinema
e assistirmos ao ponto final da guerra entre Atenas e seus vizinhos
e vermos a cerimónia de paz entre Roma e Cartago
em breve.
E em breve as aves migrarão de um tempo para outro.
Será este caminho poeira
sob a aparência de sentido, ter-nos-á conduzido
a uma viagem efémera entre dois mitos:
será isso necessário, seremos nós necessários,
como um estranho que se vê a si mesmo nos espelhos da sua estranha?


Mahmûd Darwîsh
O leito de uma estranha (1999)
Tradução: André Simões

versão preliminar


كان يَنْقُصْنا حاضِرَ
...
لم يكن عُمْرُنا كافِياً لِنشيخِ معاً
ونسيـرَ إلى السينما مُتْعِبَين
ونَشْهَدَ خاتَمةَ الحَرْبِ بَين أَثينا وجاراتها
ونرى حَفْلةَ السَلَمِ ما بين روما وقرطاج
عمَّا قليل.
فعمَّا قليلٍ سَتَنْتَقَلَ الطَيْرُ من زَمَنٍ نَحو آخَرَ
هل كان هذا الطَريقُ هَباءً
على شَكْلِ مَعْنَى، وسارَ بِنا
سَفَراً عابِراً بَينَ أُسْطورتَين،
فلا بُدَّ مِنهِ ولا بُدَّ مِنا
غَريبًا يَرَى نَفَسَهُ في مَرايا غَريبَتِهِ؟

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

في ظل الكلام



(13 de Março de 1941 – 9 de Agosto de 2008)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Colar da Pomba de Damasco



alif . ا

em Damasco

_____ as pombas voam

__________ sobre uma cerca de seda

_______________ duas

____________________ a duas


bâ' . ب

em Damasco

_____ vejo toda a minha língua

______escrita num grão de trigo

______com agulha de mulher

______e corrigiu-a a perdiz da Mesopotâmia.


tâ' . ت

em Damasco

_____ estão bordados os nomes dos cavalos dos árabes

_____ desde os Dias da Ignorância1

______até ao Fim dos Tempos

______ou depois

______com fios de ouro


ṯâ' . ث

em Damasco

_____ o céu anda

_____ pelas ruas velhas

_____ descalço, descalço

_____ acaso precisam os poetas

_____ de inspiração

_____ ou de metro

_____ ou de rima?


jîm . ج

em Damasco

_____ dorme o estrangeiro

_____ de pé em cima da sombra

_____ como minarete no leito da eternidade

_____ sem saudade de país nenhum

_____ ou de ninguém


ḥâ' . ح

em Damasco

_____ prosegue o verbo no imperfeito

_____ as suas ocupações omíadas2:

_____ caminhamos para o nosso amanhã confiantes

_____ no Sol do nosso ontem.

_____ nós e a eternidade,

_____ habitantes deste lugar!


ḫâ' . خ

em Damasco

_____ rodam as conversas

_____ entre o violino e o alaúde

_____ à volta das questões das existências

_____ e dos fins:

_____ àquela que matou um amante renegado,

_____ para ela o Limite da Árvore de Lótus3!


dâl . د

_____ em Damasco

_____ Iussuf rasga

_____ com o nei4

_____ as suas costelas

_____ por nada

_____ senão que

_____ não achou com ele o seu coração


ḏâl . ذ

em Damasco

_____ voltam as palavras à sua origem,

_____ a água:

_____ não é poesia a poesia

_____ e não é prosa a prosa

_____ e tu dizes: não te deixarei

_____ mas toma-me para ti

_____ e toma-me contigo!


râ' . ر

em Damasco

_____ dorme uma gazela

_____ ao lado de uma mulher

_____ em cama de orvalho

_____ e então tira-lhe a roupa

_____ e cobre-se com o Barrada5!


zay . ز

em Damasco

_____ um pardal pica

_____ o trigo que deixei

_____ sobre a minha mão

_____ e deixa-me um grão

_____ para me mostrar amanhã

_____ a minha manhã!


sîn . س

_____ em Damasco

_____ um jasmim namorisca comigo.

_____ não me deixes

_____ e anda nas minhas pegadas

_____ e então o jardim tem cíumes de mim.

_____ não te aproximes

_____ do sangue da noite na minha Lua.


šîn . ش

em Damasco

_____ passo a noite com o meu sonho leve

_____ sobre uma flor de amendoeira que graceja:

_____ sê realista

_____ para que eu floresça segunda vez

_____ à roda da água do nome dela

_____ e sê realista

_____ para que eu atravesse o sonho dela!


ṣâd . ص

em Damasco

_____ apresento a minha alma

_____ a si mesma:

_____ aqui mesmo, sob dois olhos amendoados

_____ voamos juntos gémeos

_____ e adiamos o nosso passado comum


ḍâd . ض

em Damasco

_____ suavizam-se as palavras

_____ e então ouço a voz do sangue

_____ em veias de mármore:

_____ arranca-me ao meu filho,

_____ diz-me a cativa,

_____ ou tornar-te-ás comigo em pedra!



ṭâʾ . ط

em Damasco

_____ conto as minhas costelas

_____ e faço voltar o meu coração ao seu trote

_____ talvez a que me fez entrar

_____ na sua sombra

_____ me tenha matado

_____ e não me dei conta


ẓāʾ . ظ

em Damasco

_____ a estrangeira devolve a sua liteira

_____ à caravana:

_____ não regressarei à minha tenda

_____ não pendurarei a minha guitarra

_____ depois desta tarde

_____ na figueira da família


ʿayn . ع

em Damasco

_____ os poemas são translúcidos

_____ não são palpáveis

_____ e não são mentais

_____ mas o que diz o eco

_____ ao eco


ġayn . غ

em Damasco

_____ a nuvem seca em uma época

_____ e cava um poço

_____ para o Verão dos amantes na várzea do Qâsyûn6

_____ e o nei cumpre os seus usos

_____ na saudade que nele há

_____ e chora em vão


fâ' . ف

em Damasco

_____ registo no caderno de uma mulher:

_____ todos os

_____ narcisos que há em ti

_____ te desejam

_____ e não há muro à tua volta que te proteja

_____ da noite do teu encanto excessivo


qâf . ق

em Damasco

_____ vejo como se encolha a noite de Damasco

_____ devagarinho devagarinho

_____ e como com as nossas uma deusa se torna

_____ una!


kâf . ك

em Damasco

_____ canta o viajante em segredo:

_____ não voltarei de Damasco

_____ vivo

_____ nem morto

_____ mas nuvem

_____ que alivia o peso de borboleta

_____ da minha alma fugitiva.


Mahmûd Darwish
Tradução: André Simões
Versão preliminar


NOTAS

Cada estrofe tem por título as letras do alfabeto árabe, até ao kaf.


1A jahiliyya, o período pré-islâmico.

2Alusão ao Califado Omíada de Damasco (661-750).

3Trata-se da Árvore de Lótus que marca o fim do Sétimo Céu, ou seja: a última fronteira, aquela que ninguém pode passar (Alcorão 53:14).

4O nay é um género de flauta oriental.

5Trata-se de um rio que atravessa Damasco.

6Trata-se de um rio que atravessa Damasco.


-----------------




ا
في دِمَشْقَ:
___ تطيرُ الحماماتُ
______ خَلْفَ سياجِ الحرير
_________ اثْنَتَينِ...
____________ اثْنَتَينِ...

ب
في دمشق:
___ أرى لُغَتي كُلَّها
___ على حَبَّةِ القَمْحِ مكتوبةً
___ بإبرة أُنثى،
___ يُنَقِّحُها حَجَلُ الرافِدَين

ت
في دمشق:
___ تُطَرَّزُ أسماءُ خَيلِ العَرَب،
___ مِن الجاهِلية
___ حتى القيامةِ،
___ أو بَعْدها
___ بِخُيوطِ الذَهَب...

ث
في دمشق:
___ تسيرُ السماءُ
___ على الطُرُقات القديمةِ
___ حافية حافية
___ فما حاجةُ الشُعَراءِ
___ إلى الوَحْي
___ والوَزْنِ
___ والقافِية؟

ج
في دمشق:
___ ينامُ الغريبُ
___ على ظلِّهَ واقفاً
___ مثل مئْذَنةٍ في سريرِ الأبد
___ لا يِحنُّ إلى بلدٍ
___ أو أحدْ...

ح
في دمشق:
___ يُواصِلُ فِعْلُ الُمضارِع
___ أشغالَهُ الأُمويَّةَ:
___ نمشي إلى غَدِنا واثِقينَ
___ من الشمسِ في أمسِنا.
___ نحن والأبديّة،
___ سُكّانُ هذا البلد!

خ
في دمشق:
___ تَدُورُ الحوارات
___ بين الكَمَنْجةِ والعود
___ حول سؤالِ الوجودِ
___ وحول النهاياتِ:
___ مَن قَتَلَتْ عاشقاً مارقاً
___ فَلَها سِدْرةُ المنتهى!


د
في دمشق
___ يُقَطَّعُ يوسُفُ،
___ بالنايَ،
___ أضْلُعَهُ
___ لا لشيءٍ،
___ سوى انَّهُ
___ لم يَجِدْ قلبَهُ مَعَهُ

ذ
في دمشق:
___ يَعودُ الكلامُ إلى أصلِهِ،
___ الماءِ:
___ لا الشِعْرُ شِعْرٌ
___ ولا النَثْرُ نَثْرٌ
___ وأنتِ تقولين: لن أدَعَك
___ فخُذْني اليكَ
___ وخُذْني معكَ!

ر
في دمشق:
___ ينامُ غزالٌ
___ إلى جانب امرأةٍ
___ في سرير الندى
___ فتخلَعُ فُستانَها
___ وتُغَطّي بِهِ بَرَدَى!

ز
في دمشق:
___ تُنَقِّرُ عُصفورةٌ
___ ما تركتُ من القَمْحِ
___ فوق يدي
___ و تتركُ لي حَبَّةً
___ لتُريني غداً
___ غَدي!

س
في دمشق:
___ تداعِبُني الياسمينةُ:
___ لا تَبْتَعِدْ
___ وأمشِ في أثَري
___ فَتَغارُ الحديقةُ:
___ لا تقتربْ
___ من دَمِ الليل في قَمَري

ش
في دمشق:
___ أُسامِرُ حُلْمي الخفيفَ
___ على زَهْرةِ اللوزِ يضحَكُ:
___ كُنْ واقعياً
___ لاُزْهرَ ثانيةً
___ حول ماءِ اسمِها
___ وكُن واقعياً
___ لأُعبر في حُلْمِها!

ض
في دمشق:
___ يرقُّ الكلامُ
___ فأسمع صَوتَ دمٍ
___ في عُروقِ الرخام:
___ اخْتَطِفْني مِنَ ابني
___ تقولُ السجينةُ لي
___ أو تحجَّر معي!

ط
في دمشق:
___ أعدُّ ضُلوعي
___ وأُرْجِعُ قلبي إلى خَبَبِه
___ لعلَّ التي أدْخَلَتْني
___ إلى ظِلِّها
___ قَتَلَتْني
___ ولم أنْتَبِهِ...

ظ
في دمشق
___ تُعيدُ الغريبةُ هَوْدَجَها
___ إلى القافلة:
___ لن أعودَ إلى خيمتي
___ لن أُعلِّقَ جيتارتي،
___ بعد هذا المساءِ،
___ على تينة العائلةْ...

ع
في دمشق:
___ تَشِفُّ القصائدُ
___ لا هي حِسِّيةٌ
___ ولا هي ذهْبيةٌ
___ إنَّها ما يقولُ الصدى
___ للصدى...

غ
في دمشق:
___ تجفُّ السحابةُ عصراً،
___ فتحفُرُ بئراً
___ لصيف المحبّينَ في سَفْح قاسيون،
___ والناي يُكْملُ عاداته
___ في الحنين إلى ما هو الآن فيه،
___ ويبكي سدى

ف
في دمشق
___ أُدوِّنُ في دَفْتَرِ امرأةٍ:
___ كُلُّ ما فيكِ
___ من نَرجسٍ
___ يَشْتَهِيكِ
___ ولا سورَ، حولَكِ يـحميكِ
___ مِن ليلِ فِتْنَتِكِ الزائدة

ق
في دمشق:
___ أرى كيف ينقُصُ ليلُ دِمَشْقَ
___ رويداً رويداً
___ وكيف تزيدُ إلاهاتُنا
___ واحدة

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Da minha vida tira um dia



Por Deus, da minha vida tira
**** um dia e deixa-me uma hora,
para conseguir em penhor
**** o que não consegui por favor.

Ibn Zaidûn
Tradução: André Simões

بِاللهِ خُذْ مِنْ حَيافـــي **** يَوماً وَصلْني ساعـــــةِ
كيما أنالَ بِقـــــــــرضٍ **** ما لَمْ أنَلْ بِشَفاعــــــةِ

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Ibn Zaidûn (1003-1070) viveu em Córdova e, mais tarde, em Sevilha. Ficou conhecido pela sua relação ardente com a princesa Wallâda. O final intempestivo e não esclarecido da relação levou à sua desgraça sentimental mas também física: acabou encarcerado, supõe-se que graças às intrigas do vizir Ibn ʿAbdûs, que lhe sucedeu no coração da princesa.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pêssegos


Ó tu que dás pêssegos à tua amada,
_____ bem-vinda a que traz alegria às almas.
Imita a mama da donzela a sua redondeza,
_____ mas envergonha as cabeças das pilas.

Muhja al-Qurṭubiyya
Tradução: André Simões


يا متحفا بالجوخ أحبابه__ أهلا به من مثلج للصـدور
حكى ثدي الغيد تفليكـــه__ لكنه أخزى رؤوس الأيـور

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De Muhja quase nada se sabe. Foi contemporânea de Wallâda, em Córdova. Era de origem humilde, filha de um vendedor de figos. Foi protegida de Wallâda, que lhe proporcionou educação literária. Há quem diga que foi mais do que protegida, e que não foi só literária a educação que recebeu da princesa. Ficou conhecida pela sua língua afiada.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Bebedeira


Não esquecerei certa noite passada
_____deitado a beber de dois odres.
E dormi bêbedo entre um e outro,
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menino que finge que dorme entre dois peitos.

Abû Tammâm de Calatrava
Tradução: André Simões

لم أَنْسَ ليلاً قِطْعةٌ وأنــــــا __ مُتَّكئٌ لاِصْطِحابِ زَقَّــيْنِ
وَنَمْتُ سَكْرانَ بَينَ ذاكَ وذا
_ تَناوُمَ الطِّفْلِ بَينَ ثَدْيَـيْنِ

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Trata-se de uma khamriyya, um poema sobre vinho (khamr), tema muito popular na poesia árabe clássica.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Encontro


Quando anoitecer espera pela minha visita
pois a noite é quem mais guarda segredo.
O que sinto por ti é tal que se fosse o Sol, não nascia,
e a lua cheia não se erguia e as estrelas deixavam de girar.

Tradução: Nádia Bentahar e André Simões


ترقّب إذا جنّ الظلم زيارتـــــــــــــي __ فإنّي رأيت الليل أكتم للســـــــرّ
وَب منك ما لو كانَ بالشمسِ ل تلح __ وبالبدر ل يطلع وَبالنجم ل يسر


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Wallâda bint al-Mustakfî (994-1091) foi filha Muḥammad III al-Mustafkī, que foi Califa de Córdova entre 1024 e 1025. Mesmo depois do assassinato do pai, manteve uma posição de relevo em Córdova, liderando o mais importante salão literário da cidade. Ficou imortalizada pela poesia que lhe dedicou Ibn Zaidûn, um dos grandes poetas do al-Ândalus, e com quem manteve uma ardente e quase escandalosa relação amorosa, até se separarem por motivos obscuros. Da obra de Wallâda só sobram alguns fragmentos, quase todos satíricos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Uma rosa


Chega a ti, Abû ʿÂmir, uma rosa. // Recorda-te o perfume as suas exalações.
É como ver uma donzela que ao ser vista // cobrisse com as mangas a cabeça.

Ibn Ṣâra de Santarém
Tradução: André Simões

أتَـتْكَ أبا عـــامِرِ وَرْدةٌ // تَذَكَّرَكَ الطِّيبُ أنْفاسَــــــها
كَعَذْراءَ أنْصَرَها مُبْصِرٌ // فَغَطَّتْ بِأكْمامِها رأسَـــــها

Bebedeira no convento


MOAXA 34

Uma destas noites fomos a um convento para a vinhaça,
por entre guardas e camaradas.


1
A correr, uma menina nos trouxe vinho.
Recebeu-nos com hospitalidade e respeito,
e jurou pelos Evangelhos.

Não a vesti senão com pez,
e no fogo não foi posta nenhuma vez!

2
E eu disse-lhe: tu, ó mais formosa de todas,
Porque pondes bebida no copo?
Ela disse: “Isso não nos incomoda de todo,

Pois assim o bebemos nos escritos
dos monges e dos bispos.”

3
Confesso-vos, ó gente nobilíssima,
estou preso de paixão por Ahmad:
tem uns olhos que matam de indiferença.

Escondi a paixão em segredo no meu íntimo,
mas as minhas lágrimas desvelaram os meus segredos.

4
As lágrimas do amante desvelaram a paixão,
pois a sua face é como a Lua cheia no horizonte;
tem olhos que matam as criaturas.

E quantos ferozes leões foram mortos
e para os caídos do amor não há vingança.

5
Uma miúda foi encantada por ele,
ficou doente com a rejeição e o orgulho,
recitou e cantou-lhe:

“Piedade, piedade, ó formoso!, diz:
por Deus, porque [me] queres tu matar?”


Cego de Tudela
Tradução: André Simões

N.B.:
as palavras em itálico na última estrofe estão em língua romance moçárabe.


الموشح ٣٤

وليلٍ طـَرَقـْنا دَيْرَ خَمّارِ // فَمن بَـيْنَ حُرّاسٍ وسُمّارِ

فأتـَّتْ لنا الخَمرَ بِتَعْحيـــــلِ
وَقامَتْ بِتَـرحيبٍ وتَبْجيــــلِ
وَقَدْ أقْسَمَتْ بِما في الإنْجيـــلِ
ما لَـبَّسْتُها سِوىً القارِ // وَما عُرِضَتْ يَوماً على النارِ

فَقلتُ لها يا أمْلَحَ النـــــاسِ
فَما عِنْدكُم في الشُرْبِ بالكــأسِ
قالَتْ ما عَلينا فيهِ من بــــأسِ
كذا قد رويناهُ في الأخْبارِ // عَنْ جُملةِ رُهبانٍ وأحبارِ

أُقرَّ لَكُم يا قَومُ بِالأمْـجَــــدْ
أنّي مُستهامٌ في هَوىٍ أحمــــدْ
لَهُ مُقَلٌ تَقْتُلُ بِالصَـــــــدْ
كَتَمْتُ الهوى سِرّاً بِمضماري // لَكِنْ أدْمُعي باحَتْ بِأسراري

بَاحَتْ أدْمُعُ العاشِقِ بِالعِشْـــقِ
فيمن وَجْهُهُ كَالبَدْر في الأُفْـــقِ
له مُقَلٌ لِقَتْلِ في خَلْــــــقِ
فَكَمْ قُتِلَتْ من أسدٍ ضار // وما لِقَتيلِ الحُبِّ مِنْ ثأرِ

وَرُبَّ فَتاةٍ فُتنتْ فيـــــــهِ
يُعَلَّلُها بِالصدِّ والتيـــــــهِ
فَقَدْ أنْشَدَتْ وهي تَغْنّيـــــهِ
أمانُ أمانُ لَمَليحْ غارِ // بُرْكي تو كِرْشْ بِاللهِ مَتارِ

segunda-feira, 22 de março de 2010

Tições ardentes



Se no teu coração há tições ardentes então não espalhes os seus segredos pois receio o seu fogo no jardim ou nas suas flores


ʿA'ixa al-Iskandarâniya
Tradução: André Simões
tradução provisória


إذا كانَ قَـلْبُكَ ذا جاحِم فلا تَبْعَشَنَّ بِأسرارِهِ

فإني لأشْفِقُ من نارِهِ على الرَوضِ أو بَعْضَ أزْهارِهِ

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Aula do Kama Sutra


Com um copo com embutidos de lazúli
espera por ela

Sobre o lago em volta da tarde e o perfume de flores
espera por ela

Com a paciência do cavalo pronto para descer a montanha
espera por ela

Com o bom gosto do príncipe magnífico
espera por ela

Com sete almofadas cheias de nuvens leves
espera por ela

Com o fogo do incenso mulher enchendo o lugar
espera por ela

Com o cheiro do sândalo homem em redor do dorso dos cavalos
espera por ela

E não tenhas pressa, e se ela chegar depois da hora
então espera por ela

E se ela chegar antes da hora
então espera por ela

E não assustes os pássaros que estão nas suas tranças
e espera por ela

Para que ela se sente descansada como um jardim no cimo da sua beleza
e espera por ela

Para que respire este ar estranho no seu coração
e espera por ela

Para que levante o vestido das suas coxas, nuvem por nuvem
e espera por ela

E trá-la à varanda para ver uma lua afogada em leite
espera por ela

E oferece-lhe água antes do vinho, e não
olhes para as perdizes gémeas a dormir sobre o seu peito
e espera por ela

E toca-lhe a mão devagarinho quando
pousa o copo sobre o mármore
como se lhe levasses orvalho
e espera por ela

Fala com ela como uma flauta
com a corda assustada de um violino
como se fôsseis os dois testemunhas do que o amanhã vos prepara
e espera por ela

Ilumina-lhe a noite anel por anel
e espera por ela
até que a noite te diga:
não ficaram senão vós dois no mundo

Portanto leva-a com cuidado para a tua morte desejada
e espera por ela


Mahmûd Darwîsh
Tradução: André Simões

tradução muito provisória


درس من كاما سوطرا

بكأس الشراب المرصَّع باللازوردِ
انتظرْها ,
على بركة الماء حول المساء وزَهْر الكُولُونيا انتظرْها ,
بذَوْقِ الأمير الرفيع البديع
انتظرْها ,
بسبعِ وسائدَ مَحْشُوَّةٍ بالسحابِ الخفيفِ
انتظْرها ,
بنار البَخُور النسائِّي ملءَ المكانِ
انتظْرها ,
برائحة الصَّنْدَلِ الَّذكَريَّةِ حول ظُهُور الخيولِ
انتظْرها ,
ولا تتعجَّلْ , فإن أقبلَتْ بعد موعدها
فانتظْرها ,
وإن أقبلتْ قبل موعدها
فانتظْرها ,
ولا تُجفِل الطيرَ فوق جدائلها
وانتظْرها ,
لتجلس مرتاحةً كالحديقة في أَوْجِ زِينَتِها
وأَنتظْرها ,
لكي تتنفَّسَ هذا الهواء الغريبَ على قلبها
وانتظْرها ,
لترفع عن ساقها ثَوْبَها غيمةٌ غيمةٌ
وانتظْرها ,
وخُذْها إلى شرفة لترى قمراً غارقاً في الحليبِ

انتظْرها ,
وقَّدمْ لها الماءَ , قبل النبيذِ , ولا
تتطَّلعْ إلى تَوْأَمْي حَجَلٍ نائميْن على صدرها
وانتظْرها ,
ومُسَّ على مَهَل يَدَها عندما
تَضَعُ الكأسَ فوق الرخام
كأنَّكَ تحملُ عنها الندى
وانتظْرها ,
تحَّدثْ إليها كما يتحدَّثُ نايٌ
إلى وَتَرِ خائفٍ في الكمانِ
كأنكما شاهدانِ على ما يُعِدُّ غَدٌ لكما
وانتظْرها ,
ولَمِّع لها لَيْلَها خاتماً خاتماً
وانتظْرها ,
إلى أَن يقولَ لَكَ الليلُ :
لم يَبْقَ غيرُكُما في الوجودِ
فخُذْها , بِرِفْقٍ , إلى موتكَ المُشتْهَى
وانتظْرها ! ...